terça-feira, 1 de setembro de 2009

sobre o clube. (uma resenha pessoal)

Hoje cedo indo pra faculdade e passando as músicas no som do carro (dependendo da escolha, é o que dita o proceder do meu humor pelo resto do dia).
Já no final da lista parei no velho e até já surrado Clube da Esquina. O comecinho de "Tudo que você podia ser" é covardia demais, não tinha como passar. Sei que fui ouvindo faixa a faixa, palavra por palavra e lembrança por lembrança, tudo atenciosamente durante o resto do dia, em todos os momentos que dirigia e cantarolando em todos os espaços ociosos do trabalho e da faculdade. Ao final de "Ao que vai nascer", notei que todas as músicas do disco tem ou uma lembrança, ou um sentimento, ou qualquer coisa muito marcante em mim. Nada passa despercebido...

Logo a primeira faixa, "Tudo que você podia ser", me remete uma das sensações que mais gosto na vida. Acordar cedo num sábado e com o sol ainda friozinho colocar as malas no carro e sair de casa pra pegar estrada. Vidros abertos. Sentindo o vento frio de cedinho batendo no rosto. Tem mato fechado de um lado, mato fechado de outro e um destino me esperando de braços abertos. Acho que me lembro cada vez que fiz isso na minha vida. E foram inúmeras.
"Cais" é a música mais inspiradora desse disco. Ela não me remete apenas uma coisa em especial, mas sim todos os momentos em que já enchi o coração de esperança e inventei centenas de cais.
A terceira, "O Trem Azul". Através de amigos, foi a música que me apresentou o disco. Então ela está totalmente ligada a toda a turma, a todo mundo que está próximo, todo mundo distante e todo mundo que ainda há de chegar por aí.
Na verdade, todo esse disco tem cara de "estrada", mas algumas se destacam que é o caso de "Tudo que você podia ser" e "Saídas e Bandeiras". "Subir novas montanhas, diamantes procurar, no fim da estrada e da poeira, um rio com seus frutos me alimentar".
Aí vem uma das minhas preferidas, talvez a preferida, "Nuvem Cigana". Quando eu ainda danço com ela o que ela dançar e aceito viver em qualquer parte de seu coração. Alguns momentos raros, repentinos e que passam num piscar de olhos, dos quais eu não me lembro de uma única vez em que não deixei, por medo, o coração bater.
"Cravo e Canela" só me lembra uma das centenas de viagens pra cidade de Natal. Foi a que Seu Oscar me alugou como motorista durante todas as saídas. E nas tardezinhas, com o sol se pondo, num hotel perto das dunas, eu ficava sentando numa espreguiçadeira na frente de um rio, tomando cerveja, com o violão e ouvindo os grilos se chegando.
"Dos Cruces" é viajar tarde da noite. Como passageiro. Pescando com os olhos.
Aí tem aquela faixa 8, "Um Girassol da Cor do Seu Cabelo". No livro "Os Sonhos Não Envelhecem", Márcio Borges conta quando ele compôs a letra, estava com sua namorada deitada no colo, em uma cabine de um trem. Acho que foi isso, mas se não foi, é a lembrança que eu tenho, faz tempo que li. Sei que eu sempre penso nessa situação, e sobre todas elas com seus vestidos, eu me coloco no papel de Marcio Borges. E vou fazendo um imenso jardim de girassóis.
Em "San Vicente" mais uma vez eu volto as estradas. Vou me lembrando de cada cidadezinha que já passei, cada rosto desamparado, com sabor de vidro e corte.
"Estrelas" é a poeira na noite, que fica clara como vaga-lumes quando vista contra a luz dos faróis dos caminhões na estrada.
Sabe quando num filme toda vez que aparece um personagem e toca a sua música, pois pronto, a minha seria "Clube da Esquina N°2", a versão do disco, só com o instrumental.
"Paisagem na Janela" é uma lembrança mais concreta. Foi num fim de tarde, lá em Barra de Sirinhaém, eu estava apoiado na janela com um copo de cerveja e escutando a música de Lô, tava um ventinho frio, ameaçando um chuvisco, olhando a paisagem da frente da casa. Um rio imenso e várias jangadas e pescadores. E no terraço ficava Tia Sandra e Tio Roberto, sentados no chão e cantando comigo "da janela lateral, do quarto de dormir...".
Alaíde Costa com Milton Nascimento em "Me Deixa em Paz". Eu tenho um avô que é uma figura. Seu Ellon era quase que um galã de cinema na sua juventude e ainda tem o jeitão do maior galanteador das redondezas, mas até que hoje ele está mais quieto. Meu pai conta que toda vez que ele chegava numa roda de amigos e via alguém com o violão, que normalmente era o meu pai, ele dizia: -Toca aquela, "Se você não me queriiiia, não devia me procuraaaar, não devia me iludiiiir".
"Os Povos", é aquela hora da viagem que você não lembra mais de nada, nem de onde veio, nem pra onde vai. Nada na cabeça. As únicas coisas presentes são o barulho dos carros passando e o vento assobiando no vidro entreaberto.
"Saídas e Bandeiras" novamente. Acorda e olha a estrada.
"Um Gosto de Sol", é todo aquele sentimento do final de "Cais". Só que orquestrado.
"Pelo Amor de Deus". É o caos, é uma obra na fundação. Estaqueamento, barulho e sol quente.
"Lília" me dá vontade de compor. Qualquer coisa.
E começa "Trem de doido". Absurda. Essa me lembra São Paulo. Lembra algumas pessoas que conheci numa vez que fui para Bauru. Foi lá que um camarada me apresentou Beto Guedes, o dono dos solos desta música. Ele me mostrou o LP "A Página do Relâmpago Elétrico" e disse: "Escute esse disco". Só isso. Hoje é um dos meus discos favoritos. Fácil. "Trem de doido" é minha paixão por Beto Guedes.
E a chegada. "Nada será como antes" é sempre chegar no destino. Não sei, acho que eu sempre coloco o disco no carro no espaço de tempo que faz com que a penúltima música comece a tocar exatamente quando eu estou chegando. É quando se está ligando para quem o espera. "Olha, tô chegando. Vai colocando as cervejas pra gelar".
E finalmente a última faixa. A primeira vez que, realmente, ouvi "Ao que vai Nascer", foi no ano passado. Eu estava voltando da faculdade, dentro do ônibus, com fones no ouvido. E eu fiquei abestalhado. Juro. Até hoje eu lembro como fiquei completamente de cara com a música. É o final mais perfeito para o disco mais maravilhoso da nossa música.

Pra fechar. E Como disse no início, esse foi o disco escolhido na segunda feira de manhã, e foi o que procedeu o meu humor. Cheio das mais nostalgicas e boas lembranças, de planos futuros, expectativas e uns apertos no coração vez em quando.
Chega 19 de Setembro.