sábado, 23 de maio de 2009

"Hoje ainda é dia de Rock Rural"


(Alguns anos atrás. Assistindo "Durval Discos".)
Logo no começo do filme, uma música chamou muito minha atenção. Ela falava de um tal de Mestre Jonas, que morava dentro de uma baleia (que era mais segura que um grande navio), e que assinou um papel para morar dentro dela até o fim da vida.

Um tempo depois eu descobria uma turma muito interessante lá de Minas Gerais. Eles tocavam numa esquina, lá pelo começo dos anos 70. Eram uns caras aí, Bituca, Lô, Beto, Wagner, Marcos, Fernando, Ronaldo. Desses encontros saiu um disco, "Clube da Esquina" e foi à partir dele que eu comecei minha quase que obsessão por essa turma de mineiros.
Vasculhei tudo sobre a carreira de todos eles, principalmente a de Milton Nascimento, o Bituca da esquina, e dessas vasculhadas acabei por conhecer também a banda de apoio de Bituca, era o "Som Imaginário".
Extraordinário. Foi o disco que baixei. O primeiro, só do "Som Imaginário", com gravações de "Tema dos Deuses" de Milton e "Feira Moderna" de Beto Guedes. A banda era formada por Wagner Tiso, Tavito, Fredera, Toninho Horta, Luiz Alves, Robertinho Silva e o cidadão que cantava aquela música do rapaz que morava dentro da baleia. O cidadão era, Zé Rodrix.
Só para constar, Zé não era mineiro, era carioca.
A presença de Zé no disco é marcante, a versão de "Feira Moderna" de Beto Guedes que imortalizou a música, é de derramar água dos olhos. "Hey Man", "Morse", "Nepal", "Make Believe Watz", tudo no disco me deixa até hoje abestalhado. E desse disco eu percebi que aquele cidadão tinha alguma coisa a mais.
Denovo, comecei a procurar por tudo que Zé já tinha metido a colher. E a cada projeto que descobria dele, mais me identificava. Junto do "Som Imaginário", um dos que mais me marcaram foi o trio que ele formou com a dupla "Sá e Guarabyra". A temática "psicodélica-rural" do trio acabou por criar uma nova vertente brasileira. O "Rock Rural".
Pois bem, Zé Rodrix foi por anos (e até hoje é) trilha sonora de muitos momentos marcantes da minha vida. "Sábado", "Feira Moderna", "Hey Man" do Som Imaginário, "Primeira Canção da Estrada", "Desenhos no Jornal", "Mestre Jonas", "Hoje ainda é dia de Rock", "O Pó da Estrada", do trio, todas essas conseguem remeter em mim momentos meus passados com uma clareza assustadora. Sempre que escuto (como agora, que está tocando "Feira Moderna"), eu consigo me ver dentro do carro, viajando, na BR, com o vidro aberto, exorcizando todos os meus problemas na voz, no teclado, nos apitos e nas mungangas de Zé.

É engraçado quando eu penso em Zé Rodrix. Não consigo ter aquela imagem de ídolo, intocável. Definitivamente não. Parece alguém que sempre esteve mais próximo. Um amigo que tinha uma banda. Um vizinho gente fina. Um tio distante que ligava vez em quando. Um professor da faculdade. O vendedor de cachorro quente da esquina. O carinha limpeza que guarda meu carro. O policial da BR. O garçom que me serve uma cerveja com a namorada. O sogro gente boa. Enfim, Zé Rodrix foi sem dúvida um dos artistas com que eu tive uma maior proximidade e identificação com suas obras. Por isso que meu coração apertou tanto quando soube da notícia dessa sexta feira.

Pobre Zé.

Acredito que agora ele está na baleia, ao lado do Mestre Jonas, de contrato assinado. Ou quem sabe ele esteja no Nepal rindo da cara da gente.

Pois bem, Zé, onde estiver, descanse legal, na baleia ou no Nepal.

e eu continuarei por aqui, como você, plantando meus amigos, meus discos e livros e nada mais.

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